É Para o Bem do Reino

Era uma vez um homem extremamente crédulo. Tudo quanto lhe contavam ele acreditava. Assim, foi fácil para ele crer em Jesus Cristo e entregar-se totalmente ao senhorio deste, e continuava acreditando em tudo o que lhe contavam, ainda que não tivesse respaldo bíblico. "Sabe como é, o Espírito é livre e pode fazer o que quer", pensava ele.

Era uma vez um outro homem, extremamente desconfiado. Tudo quanto lhe contavam ele não dava importância achando que era mais uma lorota. Contudo, ele também, pela graça de Deus, aceitou a Jesus como seu senhor, mas continuou não acreditando em tudo quanto lhe diziam, ainda que tivesse respaldo bíblico. "Sabe como é... esta é a interpretação que o irmão tem, será que não existe nenhuma outra?", dizia ele.

Certo dia esses dois irmãos se conheceram em uma programação da igreja (eles eram membros da mesma igreja, porém não se conheciam ainda. Coisa de igreja grande) e travaram um longo bate-papo, onde ficou bem claro para ambos qual a postura de cada um. O "crédulo" saiu da conversa pensando: "é... a igreja tem que tomar cuidado com esse irmão! Já pensou se todo mundo aqui começar a desconfiar de tudo como ele? É preciso fazer alguma coisa." Por sua vez, o "desconfiado" foi embora meditando: "é... a igreja tem que tomar cuidado com esse irmão! Já pensou se todo mundo aqui começar a acreditar em tudo? Daqui a pouco a igreja vai virar uma bagunça!"

O tempo foi passando e com ele o desafeto entre os dois irmãos aumentava. Ambos foram se cercando de pessoas que compartilhavam idéias parecidas até que um dia o "desconfiado" conseguiu um cargo importante na igreja e tudo fez para diminuir a atuação do outro irmão. Este viu-se limitado a somente comparecer aos cultos e nada mais lhe era permitido fazer. "Sabe como é... é perigoso ficar acreditando em tudo! É para o bem do Reino!", alegava o "desconfiado".

Os dias corriam, a mentalidade da igreja estava mudando, os membros já não eram tão apegados à tradição e a maioria nem conhecia a própria denominação. Foi a oportunidade que o irmão "crédulo" estava precisando. Ele começou a ficar mais importante na igreja, cargos lhe foram entregues e, por sua vez, a cada dia ele tirava mais e mais o poder das mãos do "desconfiado". "Sabe como é... ele é um perigo para o evangelho! Ele inibe a atuação do Espírito Santo em nosso meio!" – argumentava o "crédulo".

A estratégia usada pelo "crédulo" era simples: primeiro ele conquistou um cargo; depois, já tendo uma certa influência, conseguiu indicar amigos seus para outros cargos; por sua vez, os seus amigos somente chamavam para trabalhar pessoas ligadas a eles e assim fechou-se um "círculo de poder" onde o "desconfiado", a cada dia que passava, ficava cada vez mais distante da liderança e isolado em seu lugar, somente aguardando a chance de reconquistar o que lhe fora tomado. "Sabe como é... é para o bem do evangelho" – cogitava o "desconfiado".

E assim caminhavam ambos os grupos. Todos muito preocupados com o bem estar do Corpo de Cristo, uma vez que o outro é uma ameaça ao Reino de Deus.

"Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá." (Mt 12.25)

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