NÃO DEU CERTO NA ÍNDIA, NÃO DARÁ AQUI!


No ano de 1501, Pedro Álvares Cabral encontrou-se com o Padre José e seu irmão Matias em Cranganor, Índia. Começava aqui uma relação nem sempre tranquila entre os cristãos latinos e os cristãos de São Tomé, de rito siro-malabar.

Este navegador levou a Portugal, além desses dois irmãos, terra do que se supunha ser da sepultura do apóstolo Tomé, bem como notícias que contrariavam a versão anterior de Vasco da Gama que confundiu os hindus com cristãos. Informou, Cabral, que de Goa a Cochim havia mais mouros do que na costa da África, mas também existiam cristãos, o que agradaria a D. Manoel no seu intuito de fazer aliança com cristãos no Oriente e tomar Jerusalém.

Com o passar do tempo, descobriu-se que esses cristãos de São Tomé não eram iguais aos latinos: além de ritos e costumes diferentes, eram nestorianos, e de aliados passariam a hereges. Havia agora por parte da coroa portuguesa a necessidade de latinizá-los, de moldar o diferente à sua forma, como se houvesse somente uma maneira de se professar a fé no Cristo.

Esse desejo de moldar o outro é antigo, bem anterior ao século XVI, pois é parte de nós não aceitar o diferente, aquilo que nos parece estranho, e estranhamente nós, cristãos, nos afastamos dos ensinamentos do Cristo que elogiou o samaritano por seu amor ao próximo. Ele serviu de exemplo a sacerdotes e levitas porque, movido de compaixão, cuidou das feridas do desconhecido.

Esse cristianismo que abre feridas ao invés de fechá-las não é o do Cristo. Essa mensagem que atormenta não é a boa nova. Esses profetas que emprestam suas bocas ao discurso do ódio, do preconceito e da opressão não estão a serviço do Deus justo e bondoso que, conforme o apóstolo Paulo, não desejou estar acima de todos, pois se fez servo e veio para servir.

Não podemos nos deixar enganar com imagens de Bíblias levantadas, pois muitos símbolos religiosos foram e são erguidos para se justificar a sujeição do outro ou até mesmo a sua morte, caso não se adeque. As Bíblias têm mais valor se abertas à altura dos olhos e lidas e entendidas e praticadas.

Não podemos nos deixar enganar por palavras de ordem, por frases de efeito que falam aos nossos corações alijando-os de nossas mentes. Há que se questionar, sempre, se o discurso é compatível com as ações de quem o profere, principalmente se o palrador se diz terrivelmente cristão. “Pelos seus frutos os conhecereis”.

Voltando à história inicial, vale dizer que não deu certo. Não aconteceu a aliança deseja por D. Manoel e durante praticamente todo o século XVI as tentativas de latinização não alcançaram o fim desejado, mas, ao contrário, causaram mais cisões e disputas pelo poder enquanto interesses comerciais se mesclavam com discursos religiosos. “Nada há de novo debaixo do sol”.

Não custa aprender com a história. Não deu certo lá e então, não prosperará aqui e agora. As boas novas são para servir, unir, curar e perdoar. Utilizar essa mensagem para dominar, desunir, ferir e excluir é inverter o Evangelho, e nós sabemos quem é o pai da mentira que muda o sentido da Palavra de Deus.

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